- Juninho! Desce aquela gelada e uma porção de torresminho.
- Quer um limãozinho pra acompanhar chefe?
- Opa, pode trazer.
Sabe o que realmente me incomoda? Gente que muda para a versão malandra de um minuto para o outro. É como se tivesse um botão nas costas da pessoa que pudesse ser acionado sempre. As opções são 3: filhinho da mamãe, neutro e malandro de gafieira.
Se você ainda não sabe de que se trata, vou dar um exemplo: Sandy e Júnior no programa do João Gordo. Você sempre viu os irmãos sendo educados, polidos e respeitosos em todos os programas que freqüentam. Beijam a Hebe na boca, riem das piadas chatas do Gugu e elogiam o trabalho do Rami. Suas vidas são, praticamente, um conto da Disney.
- Olha o torresminho e a loira.
- Valeu Juninho!
Como eu ia dizendo, o que me irrita são justamente os “bonzinhos” que giram a chave da piração. De uma hora para outra a cordialidade vira bestialidade moderada. Um excesso de “porra”, “vai se fuder” e “filho da puta” tomam conta da entrevista, tornando-a insuportável.
Mas não é só no meio artístico que essa raça transita. No dia-a-dia, eles nos cercam esperando o momento certo para darem as suas deixas.
- Quer mais alguma coisa patrão?
- Troca a garrafa que essa veio furada!
- É pra já!
Conversando com alguns amigos de profissão, notei que poucos não passaram por uma situação ao menos parecida com essa: Você vai a uma festa do pessoal da empresa onde sua namorada trabalha. Logo ao entrar pela porta já reconhece os “coxinhas”. Pessoas engravatadas que só sabem falar sobre o trabalho na firma. Sapatos engomados, gravatas amassadas e o crachá da empresa no bolso da frente da camisa.
- E o Treze, será que vai dar trabalho?
- Não sei Seu Francis, mas São Jorge há de nos ajudar. Não merecemos passar por isso!
Eles cumprimentam sua namorada e logo em seguida te apertam a mão. Alguns até arriscam uma piadinha do tipo: “Você que agüenta essa mulher?”. E claro, por educação, sorrimos e concordamos. A festa continua. Começam as danças, os passos decorados, as gracinhas do Cintra da contabilidade. De repente os olhares se voltam para você. Sua namorada acabou deixando escapar que você é publicitário.
- Juninho!
O Oliveira se aproxima rapidamente. O sangue congela, a garganta seca e você pensa em uma maneira de sair daquele ambiente. Fingir um ataque epilético? Lembrar que deixou o filho brincando com as facas Guinzu? Tarde de mais.
- Opa, sua mulher falou que você é publicitário!
- Sou sim – respondo um pouco receoso.
- Assisti um comercial ontem rapaz, genial. É com aquela gostosa.
Pronto. Surgiu o malandro de oportunidade.
- É mesmo? Bom né? – concordo com certo mau-humor.
- Cara você sabe que eu tenho umas idéias para uma propaganda, ouve só. É do caralho! – empolga-se Oliveira.
Os minutos que se seguem são desnecessários. Produções hollywoodianas misturadas com piadas sem graça e muitos, mas muitos palavrões.
- ...e aí o carro explode e o português diz: “Mas ora pois”.
Tenho certeza que no cotidiano, Oliveira nunca dizia palavrões, nunca fugia das regras e com certeza não usava a criatividade. Mas naquele momento se sentiu impelido a mostrar sua malandragem, como se precisasse falar sobre isso para se “enturmar”.
- Vocês devem jogar sinuca o dia inteiro né? Jogar sinuca, beber cerveja e encontrar muita mulher famosa nas festas. Que vida boa!
Outro ponto. Me irrita profundamente achar que publicidade é um trabalho leve e sem compromisso. Onde acendemos um baseado e “piramos”.
- Sabe que eu...
- Oliveira deixa eu ir que a minha mulher tá me chamando – interrompo.
- Ok, vamos marcar uma cerveja...
- Claro depois eu te ligo.
- Tudo bem. Mas você não tem meu telefone.
- Juninho fecha a minha que hoje eu vou sair com a patroa.
- É pra já!
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Um comentário:
cara, quanto besteira
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