Passou o pano na última caneca. Com cuidado, acomodou-a ao lado da pilha formada por pratinhos, cinzeiros e copos americanos. Fechou a torneira. Enxugou as mãos. Satisfeito colocou as mãos na cintura e abaixou a cabeça suspirando profundamente.
Olhou para o relógio antigo pendurado sobre a porta. Quinze para as quatro. Colocou o avental atrás do balcão e caminhou até a mesa mais próxima. Puxou a primeira cadeira e com um movimento ágil deixou-a sobre a mesa com as pernas para o ar. Repetiu o movimento até que não houvesse outras senão as suas pernas sobre o velho assoalho.
Era um homem grande. O tempo havia lhe levado os cabelos, e as marcas em seu rosto revelavam preocupações e experiências vividas ao longo dos anos. Nunca sorria. Ou pelo menos, nunca o tinham visto sorrir. Os braços eram fortes e tatuados. Os traços já estavam borrados, deixando a perceber que representavam uma outra época na vida do sujeito.
Caminhava com serenidade, como se o tempo já não o incomodasse. Forçou uma porta velha e enferrujada. Ela rangeu com má vontade. Tirou um grande cabo de madeira. Com a extremidade inferior passou a varrer os males daquele chão. Manuseava aquele instrumento com força e eficiência, fazendo com que em pouco tempo já o guardasse novamente dentro do sensível armário.
Olhou a sua volta. Parecia tudo em ordem.
Foi até a cozinha com a mesma calma de antes. Pegou um grande balde com listras vermelhas e brancas dentro da dispensa. Carregou-o até o centro do salão tomando cuidado para não derramar o liquido que balançava perigosamente em seu interior. Olhou mais uma vez ao seu redor.
Com um pisão derrubou o balde e todo o seu conteúdo sobre o assoalho recém varrido. O liquido se espalhou por frestas e caminhos invisíveis a olho nu.
Dirigiu-se até a saída e tranqüilamente vestiu o seu sobretudo. Colocou um charuto pela metade na boca. Revirou os bolsos de seu casaco até retirar de um deles uma pequena caixa. Tirou um palito e o raspou na lateral da caixa. Uma pequena chama passou a brilhar na extremidade friccionada. Deu algumas baforadas para o fumo aceitar o fogo. Sem apagar o fósforo olhou novamente para o bar.
- Eu disse que não trabalho no feriado – disse o homem com um sorriso no rosto.
O palito aceso rodopiou no ar. Antes que caísse na gasolina o homem já tinha se perdido na escuridão da rua.
quarta-feira, novembro 14, 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário