Todo segundo domingo de julho, acontece uma quermesse muito famosa em minha cidade. Algum santo, que fez algum milagre, que mereceu ganhar um dia com seu nome. O mesmo critério utilizado para dar nome às ruas ou aos jogos como caxeta, buraco ou badminton. O importante é que essa feirinha, realizada na praça em frente à igreja matriz, costuma reunir centenas de pessoas de toda região.
E tem de tudo. Barraquinhas de paçoca e algodão doce. Vendas de livros em fita cassete com narração do Cid Moreira e títulos como Harry Potter e a Arca de Noé ou Desvendando Jesus. Tudo para tornar essa festa especial às pessoas que vêm de longe para matar a saudade desse santo dos feriados.
Enquanto me divertia em uma roda de apostas furiosa, olhando uma roleta girar com pessoas gritando palavras de ordem empunhando notas de 1 e 2 reais, senti alguém puxando a manga de minha camiseta. Fiquei surpreso quando vi uma pequena senhora parada ao meu lado. Mais assustado ainda foi quando lembrei que estava de regata. Que situação estranha.
- Fiquei sabendo que o senhor está interessando no começo de tudo? – disse-me com uma voz rouca e sofrida.
- Desculpa – retruquei - no começo do que?
- Silêncio! Eu exijo respeito!
- Mas... foi a senhora que...
- Eu o que? Você quer o que? Quem é você? Tira a mão da minha coxa! Segurança tira o gordo de cima de mim!
Passaram se quase duas horas na delegacia até que o mal entendido fosse esclarecido. Quando perguntei ao delegado quem era a senhora escandalosa, ganhei uma resposta pouco convencional:
- Aquela senhora escandalosa, é minha mãe.
Quase 2 semanas depois, consegui sair da prisão graças a um hábeas corpus que troquei por dois maços de cigarro e uma noite de amor. Esse negócio de descobrir a origem das coisas estava ficando perigoso. Decidi que não pediria mais ajuda às pessoas. Fiz então a única coisa sensata que me veio à cabeça; fui procurar um poeta de rua.
Não é difícil encontrar esse tipo de mago das palavras. A receita é simples. Sente em uma mesa de bar. Peça uma cerveja e em seguida comece a filosofar sobre a vida. Despretensiosamente junte as palavras Camões e Calabresa Acebolada. O efeito é uma espécie de “Shazam”. E o super-herói das palavras aprisionadas em guardanapos aparece.
- Oh meu mestre. Posso contar em palavras o que vejo com o coração?
É impressionante ver essa espécie em ação. Ele se debruça sobre a mesa em busca de um copo sobressalente, enquanto deixa escapar por entre os lábios ressecados:
- Mestre, tem um gole pra adocicar as palavras?
Claro que não! E outra, desde quando cerveja é doce? Tirando cerveja de balada que vem com groselha, a minha nunca foi doce. E esse é o menor dos problemas. Quando não acha o copo ele ousa um passo a mais, e antes que alguém possa reagir, chamar a polícia ou o professor de boxe ele já está com a garrafa nas mãos.
Juro que nesse momento todos os sintomas do mundo me atacam. Coceira nas mãos, olhos lacrimejando, desmaio involuntário, urtiga de sapo-boi. A pressão sobe, o humor desce. Sem reação vejo o poeta tomando a minha querida e idolatrada cerveja no gargalo. E o pior ainda segue:
- Ahhhhhh – suspira ele, limpando a boca com a manga suja da camisa florida – eu tava precisando. Toma um gole aí chefe que a loira é sua!
- Não, muito obrigado perdi a sede.
Chego a cogitar a idéia de abandonar o bar e minha missão. Mas respiro fundo e decido continuar:
- Poeta me diga como surgiu o mundo?
- Ah meu rei, isso é simples. Mas preciso de um trocado para a inspiração – confessa com um sorriso tímido nos lábios.
- Já te dei minha cerveja – respondo irritado – vai me conta.
- Vai ser mesquinho é chefia? – retruca ele com um olhar ameaçador.
- Sim vou ser mesquinho – respondo com firmeza.
- Ok chefia então vai ser sem emoção.
Ele começou a rabiscar no guardanapo:
“A vida começa, a vida acaba.
O homem nasce, cresce e perece.
Até mesmo a mais bela onda quebra,
Quando encontra com a areia no agreste.
E assim começou a vida na Terra,
De um pequeno grão de açúcar,
Que se desprendeu do torrão divino,
E foi amaldiçoado pela eternidade a vagar.
O pequeno doce vagava pela escuridão
Até encontrar o mais improvável companheiro
No meio da penumbra sem fim
Encontrou um pé-de-cabra maneiro.
Os dois decidiram prosseguir juntos,
Para enfrentar os desafios unidos,
Juntaram toda a coragem que tinham,
E deram o primeiro passo rumo ao desconhecido.
Mas o azar recaiu sobre suas costas,
Se bem que nenhum dos dois carregava.
Não digo azar meu amigo, não me entenda mal.
Apenas costas, não tinham o grão de açúcar nem o pé-de-cabra”.
- E aí, por que parou de escrever? – perguntei ansioso.
- E aí que esse foi sem emoção – retrucou malicioso o poeta.
Putz. Estava tudo ali. O grão de açúcar, o pé-de-cabra e só faltava uma coisa. Mas o que era mesmo?
- Garçom, tem açúcar e um pé-de-cabra? – perguntei.
- Claro chefe, vai querer um copo com gelo e limão?
- Não só isso mesmo, obrigado.
Juntei tudo ali em cima da mesa mesmo. O poeta já estava jogando seu charme para um outro casal. Fiquei tentando imaginar o que seria o último elemento que fez com o mundo surgisse. Não consigo lembrar, que AZAR.
E a vida recomeçou.
7 comentários:
Não gosto de azar!
Dá azar!
vim pensando noq poderia escrever num dia como hj.
feito!
vc escreveu por mim... rs
gostei mto.
bj
hahahahaha
eu dei risada viu, ooh q beleza ler no pós almoço. Eita, demorei 2 horas pra ler!
bjo Nivea
Polinhas, nem me arrisco a deixar um comentário engraçado depois desse texto. Demais. Parabéns. Te amo. ops.
e muito bom saber como surgiu o mundo
bom eu achei que foi ese texto eu ja sabia mais n eu
e bom saber sobre mais o nosso mundo . falo pessoal
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