Sentou-se deixando todo o peso de seu corpo forçar as três pernas do banquinho de madeira. Ele ranger perigosamente.
Olhou ao seu redor. Os rostos não lhe diziam nada. Não havia muitas pessoas, e ele não reconhecia nem mesmo o simpático senhor com o volumoso bigode grisalho atrás do balcão.
Apoiou a caneca na mesa e buscou o auxílio do cotovelo para recuperar o equilíbrio. Onde diabos estava?
Olhou demoradamente para suas calças. Eram de cor amarrom. Não se lembrava mais se por gosto ou tempo. Estava amarrotada. Cada mancha tinha uma origem. Cada resíduo uma história. O pequeno rasgo acima do joelho também rendera boas risadas. Mas não sabia o porquê. O que mais queria era entender se tinha restos de geléia ou vestígios de sangue escurecido na região do bolso direito.
Resolveu levantar os olhos mais uma vez. O que fazia naquela espelunca?
As grandes vigas de madeira sustentavam o lugar. O assoalho era velho e rangia muito com o passar das pesadas botas. Por que todos naquele lugar usavam botas? A visão começou a falhar. Não podia mais contar com seus malditos olhos. Não podia mais confiar em ninguém. O equilíbrio o abandonara momentos antes. Agora seus olhos. Começava a se preocupar se os outros funcionários de seu corpo tinham sido avisados de uma greve coletiva.
Ficou imóvel. Em silêncio. Tentou em vão. Não conseguiu identificar um megafone. Mas sabia que um motim estava prestes a acontecer. E sabia quem começou com tudo. Foram os malditos rins. Estavam sempre o incomodando. Que o diabo os amaldiçoe.
Fez um esforço monumental para encaixar o dedo mindinho na alça da caneca. Não entendia por que as pessoas que fabricavam esses copos odiavam o dedinho. Só cabiam os três mesmo. Que seja. Solveu o último gole.
Quando baixou a caneca novamente sentiu a perna formigar. Era o sinal. Ao diabo com os rins. Tomaria uma atitude naquele momento.
Levantou-se. As pernas fraquejaram. A vista embaçou.
Acordou. Não havia levantado. Ainda estava na mesa. Sozinho. Dormindo em seus próprios braços. Resolveu tomar uma atitude.
- Juninho a conta.
Tinha perdido a batalha, mas não a guerra.
quarta-feira, novembro 14, 2007
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